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RS tem 10% de jovens que não estudam nem trabalham; cenário é pior entre pobres, negros e mulheres

Um estudo realizado pelo Observatório Juventudes e pelo Data Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) revelou que 10% dos jovens no Rio Grande do Sul, aproximadamente 229 mil pessoas, não estão estudando nem trabalhando. Conhecidos como “nem-nem”, esse grupo equivale à população de uma cidade como Novo Hamburgo e supera a de 98% das cidades gaúchas individualmente. O levantamento analisou jovens entre 15 e 29 anos, conforme definido pelo Estatuto da Juventude, utilizando dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua (PNADc) até 2023. A pesquisa da PUCRS se distingue por não considerar inativos aqueles que estão em busca de emprego.

Apesar de o índice de 10% ser considerado alarmante, ele é inferior à média nacional, que é afetada pelas regiões Norte e Nordeste. No entanto, o estudo destaca que a situação é mais crítica entre grupos específicos, como pessoas pobres, negras e mulheres, exacerbando as desigualdades sociais. O sociólogo André Salata, coordenador do PUCRS Data Social, ressalta que a juventude é um período crucial de transição para a vida adulta, onde desigualdades sociais se consolidam. A falta de trabalho ou estudo prejudica a qualificação e a entrada no mercado de trabalho, impactando especialmente as classes mais baixas.

Em comparação com anos anteriores a partir de 2012, a taxa de jovens “nem-nem” tem se mantido estável, com pequenas variações. Salata aponta que é difícil definir um índice “ideal” devido a várias peculiaridades. Por exemplo, jovens de famílias ricas podem estar temporariamente inativos para se preparar para concursos ou desfrutar de um intervalo antes de iniciar uma carreira, enquanto jovens de baixa renda podem ter abandonado a busca por qualificação ou trabalho devido a barreiras. A pesquisa considera “nem-nem” apenas aqueles que não estão buscando emprego.

Os resultados completos serão publicados em breve no Boletim Juventudes: Levantamento Sobre Estudo e Trabalho da População Juvenil no Brasil e no Rio Grande do Sul, coincidiendo com a Semana do Dia Internacional da Juventude, celebrado em 12 de agosto pela ONU. As tabelas do estudo indicam que a taxa de “nem-nem” é sete vezes maior entre os mais pobres em comparação aos mais ricos, o dobro entre mulheres em relação aos homens e quase 40% maior entre negros do que entre brancos.

— Embora as mulheres prolonguem a sua permanência no sistema educacional além dos homens, elas ainda ficam mais restritas à esfera doméstica quando falamos em inserção no mercado de trabalho — explica Salata.

A análise por faixa etária revela que adolescentes de 15 a 17 anos, que deveriam estar focados nos estudos do Ensino Fundamental e Médio, têm aumentado sua participação na categoria de “só trabalha”, passando de 2,1% em 2021 para 6,3% em 2022. Segundo Salata, isso reflete a recuperação econômica pós-pandemia, após um período de escassez de vagas.

Solução exige políticas públicas integradas

Patrícia Espíndola Teixeira, coordenadora do Observatório Juventudes da PUCRS, critica a visão tradicional que atribui o número de jovens fora do mercado de trabalho e da escola a uma suposta “fraqueza” geracional ou a falhas do sistema educacional. Para ela, o problema está no descumprimento da Lei 12.852/2013, o Estatuto da Juventude.

— Não é a geração que é “fraca”, nem a responsabilidade é só das escolas. Diferentes sistemas de proteção precisam garantir o acesso ao sistema de ensino oferecendo segurança pública, segurança alimentar, transporte público, saúde. A falta desse conjunto compromete o progresso educacional — opina Patrícia.

Ela destaca que 27,6% dos adolescentes de 15 a 17 anos no Rio Grande do Sul conciliam estudo e trabalho, o que representa um desafio para a gestão pública.

— Olha a sobrecarga que é isso para um adolescente — resume a coordenadora.

Patrícia defende a implementação imediata de ações em todas as esferas de governo, já que o estado está envelhecendo rapidamente, exigindo mais capacidade e produtividade dos jovens. Ela anunciou que o boletim é o primeiro de uma série de estudos sobre a juventude no estado e no país, com futuros relatórios abordando questões como a violência que afeta essa população, sempre baseados em dados oficiais que frequentemente ignoram a faixa etária definida pela legislação federal.

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