O inverno é notoriamente uma época em que muitos de nós relutamos em entrar no chuveiro, recorrendo a banhos extremamente quentes para vencer a preguiça. No entanto, a alta temperatura da água, embora reconfortante, pode causar sérios danos à pele e ao couro cabeludo, levando a irritações e até doenças dermatológicas.
Conversamos com a dermatologista Marcia Linhares, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), sobre os riscos do banho quente e como proteger a pele nos dias frios.
Os Perigos do Banho Quente
A água quente remove parte da barreira protetora natural da pele, causando ressecamento e coceira após o banho. Em casos extremos, pode surgir dermatite, caracterizada por placas vermelhas na pele. Esse hábito também pode deixar a pele grossa e áspera e, em pessoas predispostas, aumentar a incidência de urticárias aquagênicas, uma condição rara que provoca erupções cutâneas, coceira e vermelhidão em contato com a água.
Nos cabelos, a água quente estimula a secreção das glândulas sebáceas, resultando em oleosidade e na proliferação de fungos causadores de caspa. Ao mesmo tempo, resseca as pontas dos fios, tornando-os opacos e quebradiços.
Qual é a Temperatura Ideal da Água?
Para evitar esses danos, Márcia recomenda o uso de água morna, em torno de 37°C, semelhante à temperatura corporal. Não é necessário tomar banho gelado, apenas garantir que a água não esteja quente demais. Para testar a temperatura, coloque a água em contato com a pele do pulso; se estiver agradável e não muito quente, pode entrar no chuveiro.
Como Minimizar os Danos se Não Posso Abrir Mão do Banho Quente?
Entendemos que pode ser difícil abandonar o hábito de tomar banhos quentes, especialmente no inverno. Para minimizar os danos, aplique um óleo na pele antes da ducha. Isso cria uma camada impermeável, impedindo a perda de água e evitando a desidratação da pele.
Outra dica é tomar banhos mais curtos e, durante a ducha, reduzir a temperatura da água gradualmente. A duração ideal de um banho é de cinco a dez minutos em água morna. Utilize sabonetes do tipo syndet, que têm pH mais próximo ao da pele e ajudam a manter a hidratação natural.
Esqueça as buchas, que devem ser usadas apenas nos pés, e opte por esfoliantes em áreas mais grossas, como cotovelos e joelhos, uma vez por semana. A pressão da água também importa: alta pressão pode remover intensamente a camada de hidratação da pele e desencadear urticária de pressão em pessoas predispostas.
Cuidados Pós-Banho Quente
Após o banho, a hidratação é essencial e deve ser feita logo após sair do chuveiro, quando os poros estão mais abertos, facilitando a absorção do creme. Use hidratantes encorpados com ativos de alta performance, como ureia, dimeticona, germe de trigo, macadâmia, óleo de avelã, óleo de uva, manteigas, alantoína, pantenol ou ceramidas.
Use toalhas felpudas e macias para se secar, absorvendo melhor a água e evitando a umidade prolongada na pele. Seque completamente o corpo, especialmente nas dobras como axilas, virilha e entre os dedos dos pés, e troque as toalhas a cada dois dias para prevenir fungos e bactérias.
A pele do rosto merece atenção especial: peles normais e secas requerem cremes de limpeza suaves e nutritivos, enquanto peles oleosas precisam de uma boa limpeza com loção adstringente seguida de hidratantes suaves. E não se esqueça do protetor solar, mesmo no inverno, pois os raios UV continuam a danificar a pele.
Benefícios da Água Fria
Além de evitar os danos da água quente, os banhos frios trazem benefícios à saúde. Um estudo holandês publicado na revista Plos One em 2016 mostrou que pessoas que tomam banhos frios têm menor probabilidade de faltar ao trabalho por doenças. A Sociedade Brasileira de Dermatologia também recomenda banhos mais frios, pois ajudam a aumentar os níveis de alerta e a liberação de endorfina, promovendo sensação de bem-estar.
Em resumo, ajustar a temperatura da água e adotar cuidados simples pode proteger sua pele e saúde durante o inverno.
