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    Governo venderá arroz com rótulo próprio e preço tabelado; produtores falam em intervenção estatal

    O governo Lula está em meio a uma disputa acirrada com produtores, beneficiadores e vendedores de arroz após a decisão de importar 1 milhão de toneladas do grão para ser vendido diretamente em supermercados e redes de atacado de alimentos em todo o país. A medida foi adotada como resposta às inundações no Rio Grande do Sul, mas empresários e especialistas veem a iniciativa como uma intervenção no mercado pelo governo federal, que passará a comercializar o arroz com um rótulo próprio e preço tabelado.

    Esta operação é inédita, marcando a primeira vez que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realiza todo o processo, desde a importação até a distribuição. Tradicionalmente, a Conab tem se limitado à recomposição de estoques públicos e à regulação de preços mínimos de garantia ao produtor, através de leilões que vendem produtos subsidiados para agentes privados da cadeia da indústria alimentícia.

    Desta vez, além da importação, será a primeira ocasião em que o governo venderá um produto com sua própria logomarca na embalagem. O arroz importado será embalado no país de origem pelo fornecedor, com um rótulo que diz “Arroz adquirido pelo governo federal” e que leva o logotipo da Conab. O volume importado representa cerca de 10% do consumo anual de arroz no Brasil, estimado em 10,5 milhões de toneladas, o que equivale a pouco mais de dois meses de vendas nos supermercados.

    O produto será destinado à venda direta em mercados de vizinhança, supermercados, hipermercados, atacarejos e estabelecimentos comerciais com uma ampla rede de pontos de venda nas regiões metropolitanas. Esses estabelecimentos deverão vender o arroz exclusivamente para o consumidor final ao preço de R$ 8 por pacote de dois quilos.

    A decisão do governo gerou reações negativas entre os produtores e demais agentes da cadeia do arroz, que veem a medida como uma forma de intervenção estatal no mercado. A importação massiva e a venda com preço tabelado são vistas como ações que podem distorcer o mercado, afetando os preços internos e a competitividade dos produtores nacionais.

    Os impactos dessa operação inédita serão observados nos próximos meses, à medida que o arroz importado comece a chegar às prateleiras dos supermercados e a dinâmica do mercado interno de arroz seja testada por essa nova intervenção governamental.

    Sócio da MB Agro, José Carlos Hausknecht afirma que a operação, além de colocar o governo numa seara nova de distribuição de arroz, está sendo feita no auge da colheita.

    Quase toda a safra gaúcha foi colhida (85%) e o problema é de logística, não de falta de produto, alega ele. Além de correr o risco de não dar certo pelo ineditismo e falta de expertise do governo em operar a venda direta ao consumidor final, a estratégia pode desestimular o plantio da nova safra de arroz.

    “É uma política estranha, não foi feita para regular o estoque, mas para abastecer o mercado”, diz Hausknecht. “Se faltar arroz no Brasil, a indústria vai buscar, não vejo necessidade de o governo entrar nisso”.

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